quarta-feira, 5 de setembro de 2012

a voz de Davi Yanomami

“A onça procura na pedra um bom buraco para viver. Macaco é a mesma coisa. O mutum fica nas árvores, onde a natureza quiser. Mas o homem branco precisa ter geladeira, freezer, cama, telefone. São costumes bem diferentes”

Davi Kopenawa Yanomami



domingo, 22 de julho de 2012


"Você não entende absolutamente os pensamentos ou as palavras de outrem, você os degusta como a um vinho, ou vinagre, ou um prato qualquer. O que importa é que transformemos o paladar em forças de sentimento" Rudolf Steiner




quarta-feira, 18 de julho de 2012

A acústica e a movência da voz


"A voz é experiência que se realiza entre os corpos"
Zebba Dal Farra

Sax Blue (Fernando Néri/Eurico Bivar)

A sala do foyer do Theatro José de Alencar foi palco do inicío da construção do espetáculo Acústica e Movente no período entre outubro e dezembro de 2010 passando por uma experimentação no palco principal do mesmo teatro em janeiro de 2011 e retorno ao foyer em 29 de janeiro de 2012 para um encontro especial com um dos seus inspiradores: Maurice Durozier. Pensado para acontecer na sala do foyer, com a possibilidade de migrar por outros locais com recursos físicos similares ou que se adequem à concepção do espetáculo, este lugar mostrou-se, se não perfeito, pelo menos adequado e virtuoso, prioritariamente, devido à acústica que permite o uso experimental da voz (cantora) sem microfones e outros equipamentos de som eletrônicos, no imbrincamento das relações intervocais que se sucedem ao longo da experiência cênico-musical entre todos os instrumentos envolvidos.

"A voz é vibração do corpo, posta em movimento pelo desejo"
Zebba Dal Farra







segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O Eco do Silêncio II

"Não existe uma voz igual à outra e saber disso me ajudou a entender que aquilo que é útil para uma voz não necessariamente é para outra. Assim como trabalho em sintonia com meu corpo, sem desejar outro, devo reconhecer e aceitar o som da minha voz, com sua especificidade e suas inflexões naturais, sem achatá-la, forçando-a a alcançar rapidamente resultados úteis em cena" Julia Varley

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O Eco do Silêncio

"A voz é misteriosa, seus limites não se tocam nem se deixam descrever, viaja perto e longe, ri e chora, senta-se e voa. Pertence a um espaço que se encontra entre quem fala e as outras pessoas; entre as estrelas, às quais nos dirigimos para nos orientar, e nós mesmos. As variações da voz são ilimitadas. É possível imaginar a forma de um "passo de guerreiro", mas uma "voz de guerreiro" tem uma gama de possibilidades tão ampla, que é problemático delimitá-la. A voz tem tons, cores, timbres, ressonadores, harmônicos, direções, pausas, tremores, trilos e glissandos, musicalidade, ar, corpo, volume, amplidão; a voz vibra e preenche, aumenta ou torna íntimo o espaço. Os ressonadores e o volume do corpo, as cavidades da boca e do nariz, a forma da cabeça, a posição dos dentes, o tamanho da lingua influem na qualidade da voz. Os detalhes que constituem a particularidade da voz são infinitos e minimalistas." ( Pedras de Água, Julia Varley )

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Encontro IV: Soltando a voz no MAUC I

Esse encontro teve inspiração em recente viagem ao Rio de Janeiro, quando encontrei Ângela Hertz, instrutora de voz de muitos artistas e que me foi apresentada por Elke Maravilha e Rubens Curi. Ângela, ex-cantora, teve uma história de ascensão e queda após a perda da voz, o que lhe valeu um processo quântico de transformação pessoal, tornando-a, atualmente, referência no campo da voz na cidade maravilhosa. Conversei com ela e fiz uma única aula dividida em duas etapas, uma parte na sua sala de trabalho e a outra na sala da sua casa, com a perspectiva de continuar essa orientação vocal a posteriori. Vale ressaltar que Ângela é extremamente responsável como professora e sua pedagogia inclui cuidados na transmissão de práticas e conhecimentos e dá relevância ao processo de autoconhecimento, que considera fundamental nessa nova ordem vocalizadora. Ela prefere aceitar alunos que se comprometam com essa ética.

Movida por esse clima com a professora de canto e com inspiração constante em Yoshi Oida, recebi o grupo que se formou na sexta, 18 de novembro, no auditório do MAUC-Museu de Arte da UFC. Marco Leonel Fukuda, Tainara e Raiana, bolsistas do site da Rádio Universitária FM-RUFM (107,9MHZ - http://www.radiouniversitariafm.com.br/),  Leovigilda Bezerra, que, entre outras atividades, produz o programa Música Erudita nesta mesma emissora e, ainda, a atriz  Sol Moufer, atualmente às voltas com espetáculo baseado em Erêndira e Sua Avó Desalmada, de Gabriel Garcia Marquez, sob direção de Sâmia Bittencourt.

A inspiração em Ângela levou-me - após escutas e vocalizações pelas várias salas do museu - a formar um círculo no final do trabalho, na sala inicial, para uma conversa. Subjacente, a intenção de reencontrar vozes 'perdidas' no esquecimento, algo da biografia vocal, (re)conexão com uma identidade possível...! Assim como Ângela refaz constantemente seu caminho vocal, atualizando-se,  a pedido meu, os presentes narraram momentos importantes de sua trajetória vocal. Esse exercício tão simples de tocar a memória, narrar sua própria biografia, escutar a história do outro e dialogar sobre isso é capaz de nos levar a descobertas extraordinárias sobre nós mesmos e à consciência que pode impulsinar às transformações necessárias e/ou queridas.

BIOGRAFIA VOCAL
Mudanças vocais na adolescência marcaram a relação de Marco e Caio com a própria voz. Como lidar com as oscilações próprias dessa fase transitória é uma das questões que importam para compreender como as vozes passam a existir na vida de cada um dos rapazes. Marco fala de que, com o tempo, foi-se acostumando à própria voz em experiências de gravação na Rádio Universitária FM. A mesma emissora tornou-se referência para Caio no encontro com sua identidade vocal atual. Jovem, vivendo experências radiofônicas opostas e intensas, simultaneamente - emissora comercial e emissora educativa -, Caio viu-se diante da perspectiva de escolha. Mudou, então, aquilo que mais lhe identificava vocalmente do ponto de vista profissional, agora mais dado aos conteúdos e a forma de trabalho da RUFM.

Segundo Sol Moufer, sua voz era excessivamente grave na infância. Por causa disso ouvia comentários dos adultos, o que a fez tentar colocá-la no registro mais agudo. Atribui a esse fato ter deixado de falar outras coisas. Ela diz que, quando começou a fazer teatro e, principalmente, quando começou a cantar no teatro, ficou mais perceptível o timbre nasalizado e, mesmo não se incomodando com isso, reconhece que no trabalho de atriz isso acarreta algumas dificuldades. Ela acrescenta que "foi também por falar nessa voz que me veio a curiosidade de relembrar da minha voz de quando era criança. Quem sabe os encontros possam buscar isso...".

Raiana nos faz pensar sobre uma certa geografia relacionada à constituição da voz, um percurso geográfico da voz e como ela relaciona-se com os lugares por onde passa. Raiana acostumou-se aos comentários de outrem sobre seu sotaque diferente do lugar onde nasceu e de onde vive e, aos insistentes, responde referindo-se à herança materna: "... isso se  deu porque minha mãe já havia morado em alguns lugares diferentes, e eu tinha o mesmo sotaque dela.". Ela refaz parte de sua geografia vocal:

"Minha mãe nasceu na Bahia, numa cidade chamada Cícero Dantas. Minha avó era da Bahia e meu avô, do Ceará. Daí ela morou próximo de Minas na infância, lugar a que ela atribui o sotaque dela. Na adolescência ela veio para Fortaleza, onde morou muitos anos antes de ir para João Pessoa-PB com o meu pai (que é cearense), na época em que eram casados. Aí eu nasci em João Pessoa e morei oito anos lá. Apesar disso, nunca tive o sotaque de lá. Com 8 anos vim para Fortaleza com meus pais e minha irmã, onde vivo até hoje. Sempre acham meu sotaque diferente, mas nunca conseguem identificar de onde ele é (dizem vários lugares, muitas vezes São Paulo, mas nunca a Paraíba). Daí eu explico que nasci em João Pessoa, moro em Fortaleza, mas minha mãe é baiana, morou próximo de Minas (além de ter morado no Piauí por dois anos) e eu tenho um sotaque que, acredito, é uma mistura de todos esses lugares."

Outra questão, no caso de Raiana, é que ela considera sua voz baixa, mesmo se esforçando para torná-la mais alta e observa como precisou "tentar impostar mais a voz" após começar a cursar jornalismo. Esse também é o caso de sua irmã, Tainara, que tem buscado superar a cada vez que se coloca diante dos microfones da Rádio Universitária FM. Porém, os problemas mais recorrentes, no caso de Tainara, são a timidez e a lentidão na fala. A timidez lhe acarreta outros problemas de comunicação, impedindo-a muitas vezes de se colocar numa conversa ou falar em público. Tentou superar esse dilema quando entrou num coral, porém, a tensão que lhe dominava frequentemente também 'fechava' sua garganta. O arrastado na fala só fora percebido por ela em escutas recentes gravações na emissora que trabalha, o que, para algumas pessoas do seu convívio, era confundido com 'estado de zen budismo'. Ainda sem saber o que fazer para superar esses problemas, Tainara segue buscando soluções.

Leovigilda nos conta sobre várias situações críticas com sua voz, desde o fato de falar alto a acontecimentos frustrantes na área profissional. O tom muito agudo da fala, a insistente inflamação na garganta, respiração errada, são alguns problemas que estão sendo verificados por ela. Conversamos na perspectiva de que tudo isso poderá se transformar a partirde cuidados a serem empreendidos. A primeira atitude para fazer a mudança necessária é, ao meu ver, aceitar sua própria voz, suas características naturais. E é dentro desse contexto que Leovigilda decide ser a locutora do programa que produz, após fazer testes com outros locutores e descobrir que a locução ideal para o programa Música Erudita, nesta fase, não deve partir, necessariamente, de uma voz pronta, de locutor profissional, mas de uma voz que corresponda ao que está sendo produzido, que promova intimidade entre o programa e o ouvinte. Com essa finalidade, ela busca cuidados para realizar seu objetivo. Numa imagem metafória, ela brinca com a situação e diz que usar ou não a voz profissionalmente era algo 'optativo', mas agora, com a saída da apresentadora do programa, tornou-se 'obrigatório' que ela assumisse esse posto.

OFICINA
A presença de Sol Moufer neste IV Encontro contribuiu para não deixar escapar o propósito da oficina de abordar a voz de modo mais integral. Com presença maior de radialistas, poderíamos ceder à tentação de ficar no específico da locução radiofônica, o que não seria nada mal; certamente faremos isso em breve. Porém, é importante, nessa etapa dos Encontros Voz Criativa, ressaltar a abordagem mais ampla, pela carência desse enfoque nos meios, entre nós, nos quais a voz é instrumento central. Essa abordagem reintroduz a voz no corpo, mudando radicalmente nossa postura em relação a esse maior meio da comunicação humana. Justamente por isso, por sua importância, é necessário, a partir desse enfoque corporal, considerar também todas as outras dimensões, como, por exemplo, a voz como instrumento de autoconhecimento, a relação da voz com a escuta, com a memória, com o espaço etc.

POR AGORA...
Ao longo de uma carreira profissional de mais de 20 anos em que atuo com a voz no centro de várias atividades (rádio, música, teatro, cinema etc), vez por outra, me aparece quem diga, em tom de frustração, que gostaria de ser locutor/locutora de rádio mas não tem voz pra isso, no que contesto dizendo que estou escutando uma voz. No caso teatral, percebo e também escuto de alguns frustrados a tendência para certo engessamento ou total descaso com o uso vocal, muitas  vezes incorrendo em problemas de saúde. Com outros agravantes implicados, como uso constante de cigarro, noites sem dormir etc, percebo que, no caso musical, esse tipo de problema também se faz presente.

                                                       ( EM CONSTRUÇÃO )